domingo, abril 12, 2015

pro_fundo

Sou tão transparente, mas ninguém sabe nada sobre mim.

Sou nuvem e água.
Fogo e vento.
Ao mesmo tempo.

Sou tanta coisa que não ouso ser.
Talvez só não seja terra firme areia fina pé descalço no piso frio de taco lajota cimento.
Não sou chão.

Madeira em combustão.

Sou fluxo sem ponto final sem querer ser

(Me repito, faço igual, erro, corrijo. Volto duas casas, feito tabuleiro. Jogo dados búzios tarô. Desisto fácil. Jogo fora. Cato do lixo. Jogo na cara. Me arrependo. Falo nada. Fico muda. Turva. Oposto. Me anulo. Me quebro. Repito ad infinitum.)

Não gosto de jogos. De nenhum tipo.

Tenho pouco tempo. Tô sempre atrasada. Corro. (Não sei pedir socorro)
Sou coelho e Alice.

Exijo cabeças. Me exijo demais.
Acredito em tudo. Desacredito.
(Tão eu desacreditar pra acreditar de novo. Repito. Repito. Repito.)

Sou parênteses ponto-e-vírgula travessão - artifícios.

Sou fogo.
(Já disse que me repito.)

Lembro de tudo.
Esqueço o que convém. Ou o que dói demais.

Minto.

Sinto muito.
Peço desculpa. Me culpo. Não me perdõo.

Guardo rancores e papéis.
Me coloco no lugar do outro.
Saio do lugar.
Volto.

Tenho coragem, mas, já disse que também desisto.
Me machuco, tropeço, me perco.
Não sei ler mapas.
Não tenho bússolas. Nem bulas.
Desconheço meu modo de usar.
Me agito.
Não descanso.
Procuro, sempre.
Acho que sei demais.
Acho moedas no chão.
Tenho sorte. E vontades. Assim, no plural.
Tenho febres e um termômetro, que nunca sei direito como manejar.
Tenho tanta coisa que não ouso ter.

Agradeço. Me despeço. Me dispo.
Eu, que me acho tão transparente, me escondo.

Me mostro demais.
...



# . por Joelma Terto .  1 Comentários